domingo, 27 de julho de 2014

Espetáculo.


Ébria mascara carrego no rosto
transfigurando tristeza em sorriso;
representando cada dor deste meu peito vazio;
ator em ultimo sinal que chama ao primeiro ato
de um espetáculo solitário, sem palco,
plateia, texto, aplausos e flores ao final.

Em monologo noturno sou ator de
minhas desilusões.


(Dimitre Padilha)

quarta-feira, 23 de julho de 2014

Sublimar-se.



Beba-me neste cálice
de ímpeto e veneno
num só gole profundo
de tormentos
paixão de desatinos
fogo e desejo

Beba-me que te bebo
a cada momento
imperfeito
solene
marginal

Bebamos um ao outro:
e morreremos imensamente
num só êxtase;
para renascermos
e tornar a morrer
em gozo tácito
e amor implícito.


(Dimitre Padilha) 

terça-feira, 22 de julho de 2014

Pequenininha.


Queria me enjoar de você,
do seu jeito de ser,
desse cheiro de mar
desse seu olhar.

Queria não gostar de você
de brincar de sorrir
dessas unhas no cabelo
de te sumir num abraço.

Queria me apartar de você
sem saudade de tudo que
nos cerca...

Sem saudade de quem sou contigo.

(Dimitre Padilha)

Navegar é preciso, viver também.


Meu coração é beira de mar:
às vezes areia, praia, onda;
às vezes cheia, vazante – nunca vazio.

São as correntes, trazendo água morna;
é plataforma continental nos becos do dia;
é zona abissal em minha poesia.

Este meu coração de continentes:
era porto, cais, cordas e amarras...

agora é vela, vento, nau:
um imenso navegar.
  
(Dimitre Padilha)

segunda-feira, 21 de julho de 2014

Vagando além-corpo.


Essa noite, ao acordar de sonhos intranquilos,
(meio dormindo meio sonambulo)
deparei-me com seu corpo em minha cama,
transmutado da mulher que habito.

O cheiro de sua pele flamejante
se extraviou de mim.

E eu, absorto,
naveguei pela noite
à sua procura,
acordando nestes lençóis vazios.

(Dimitre Padilha)

Sarcasticamente.



A poesia permite
não explicar,
desajustar,
satisfazer o grito
calado em soluço.

A fugir dos vícios
dos termos do dia...

Escrever é viver a emoção
e jogá-la, impiedosamente,
ao colo dos desatinos.



(Dimitre Padilha)

quarta-feira, 16 de julho de 2014

Solidão das velas.


A solidão de estar contigo,
observando cada movimento seu,
cada olhar que cruza com o meu,
nesta luz de velas que a lua
insiste em nos banhar, deixo escapar
palavras não ditas, num diálogo
silencioso materializado pelas
vontades que esta minha pele
(e este meu coração)
desejam.
Navego à deriva dos seus olhares.
E neste mar de incertezas sou
poeta de uma única poesia clara...

Um menino, simplesmente,
que escreve à sua primeira
namorada.


(Dimitre Padilha)

segunda-feira, 7 de julho de 2014

Na medida dos seus olhos.


Se eu fosse te desenhar,
certamente começaria
por seus olhos...

Seus traços exalam
canções noturnas,
versos silenciosos,

cores de Frida Kahlo,
diálogos inauditos
sobre a ternura da madrugada.

Extravio-me de mim,
essa clara noite me resgata...



(Dimitre Padilha)

domingo, 6 de julho de 2014

Sem subterfúgios.


Li na bíblia que o amor é forte como a morte.
Como a morte ele dói pelo apego físico, depois sossega.

Mas não morre...

se transforma,
torna-se completo.

Renasce imensamente,
imensamente alto.


(Dimitre Padilha)