segunda-feira, 26 de abril de 2010

Cinco Poemas Noturnos.


Poema para a noite.

Apago as luzes e vejo você.
São seus olhos de gata no telhado da casa
Miando canções inebriantes
Grunhindo unhas, lambendo a pele Cigana.

Sua música é mantra repetido em ondas
Afastando o sono, e mesmo dormindo,
Sinto o cheiro do meu reflexo
Vozes que ecoam de um passado nunca vivido

Vejo-te em minha pele que exala seu cheiro
Entranhado nos lençóis e travesseiros.

Atiro-me janela afora, pulo o muro
Para te encontrar.



Poema sobre a noite.

Acordes menores com nonos acidentes
Saídos dos espaços entre seus dentes
Ecoam na brisa dos lábios da lua
Regidos em escalas flamencas seminuas

Roucos trovões de tempestades solares
E ela, a lua, invade todos os lares
Deflorando impiedosamente
A fonte de volúpia que existe na gente.

Notas dissonantes em ritmo acelerado
Misturam-se ao cheiro noturno
Da gata no telhado.

Abraço a noite por todos os lados.



Poema na noite.

Acorda amor que é noite ainda
Sente o cheiro que vem da janela
Soprados desgraçadamente pela lanterna
De errantes comorientes.

Vem olhar a noite amanhecer
Ouvindo o silencio dos astros
Que pulsam com um único
Dos seus abraços.

Beija-me, vicio meu,
Cuida desse peito,
Afasta a angustia saudosa
Do cheiro seu

Rege essa orquestra desorganizada.




Poema com a noite.

A madrugada chegou, e eu parti antes
Com a ilusão de marinheiros errantes
Que enxergam nos olhares do dia
Aquilo que não vicia.

Parti e voltei embriagado
Pelo ilícito cheiro
Dos teus abraços e seios.

Entrelaçando-me à noite aliciadora
Perdido entre suas pernas e cabelos,
Encontro no cheiro, pelo faro,
Tudo aquilo que sou e faço.

Vejo a noite como um espelho.



Poema da noite.

Encontro contigo na noite nua
Vigiada pela lua
Iluminando de desejo
Tudo o que vejo.

Retiro-a da cabeça e a tenho nas mãos
Nas pontas dos dedos,
Língua, lábios e cotovelos
Afastando a solidão.

Acaricio seu corpo e beijo seu braço
Passando as unhas próximo à boca
De onde a noite retira sua prece
Com acordes embriagados
Unidos à fumaça dos meus cigarros.

Três sedutoras mulheres,
(A noite, a música e a lua)

Devoram-me sem talheres.


(Dimitri Padilha)

Nenhum comentário:

Postar um comentário