quinta-feira, 14 de agosto de 2014

À luz dos desatinos.


Acordei. Dei por mim, na cama, que sonho em catalão;
E esta mulher a qual pinto o corpo com letras e versos,
ensinou-me a escrever de trás para adiante.
Seu ventre engravidado dá à luz
histórias de nós dois
perdidas em desatinos
pretéritos.


(Dimitre Padilha)

domingo, 27 de julho de 2014

Espetáculo.


Ébria mascara carrego no rosto
transfigurando tristeza em sorriso;
representando cada dor deste meu peito vazio;
ator em ultimo sinal que chama ao primeiro ato
de um espetáculo solitário, sem palco,
plateia, texto, aplausos e flores ao final.

Em monologo noturno sou ator de
minhas desilusões.


(Dimitre Padilha)

quarta-feira, 23 de julho de 2014

Sublimar-se.



Beba-me neste cálice
de ímpeto e veneno
num só gole profundo
de tormentos
paixão de desatinos
fogo e desejo

Beba-me que te bebo
a cada momento
imperfeito
solene
marginal

Bebamos um ao outro:
e morreremos imensamente
num só êxtase;
para renascermos
e tornar a morrer
em gozo tácito
e amor implícito.


(Dimitre Padilha) 

terça-feira, 22 de julho de 2014

Pequenininha.


Queria me enjoar de você,
do seu jeito de ser,
desse cheiro de mar
desse seu olhar.

Queria não gostar de você
de brincar de sorrir
dessas unhas no cabelo
de te sumir num abraço.

Queria me apartar de você
sem saudade de tudo que
nos cerca...

Sem saudade de quem sou contigo.

(Dimitre Padilha)

Navegar é preciso, viver também.


Meu coração é beira de mar:
às vezes areia, praia, onda;
às vezes cheia, vazante – nunca vazio.

São as correntes, trazendo água morna;
é plataforma continental nos becos do dia;
é zona abissal em minha poesia.

Este meu coração de continentes:
era porto, cais, cordas e amarras...

agora é vela, vento, nau:
um imenso navegar.
  
(Dimitre Padilha)

segunda-feira, 21 de julho de 2014

Vagando além-corpo.


Essa noite, ao acordar de sonhos intranquilos,
(meio dormindo meio sonambulo)
deparei-me com seu corpo em minha cama,
transmutado da mulher que habito.

O cheiro de sua pele flamejante
se extraviou de mim.

E eu, absorto,
naveguei pela noite
à sua procura,
acordando nestes lençóis vazios.

(Dimitre Padilha)

Sarcasticamente.



A poesia permite
não explicar,
desajustar,
satisfazer o grito
calado em soluço.

A fugir dos vícios
dos termos do dia...

Escrever é viver a emoção
e jogá-la, impiedosamente,
ao colo dos desatinos.



(Dimitre Padilha)

quarta-feira, 16 de julho de 2014

Solidão das velas.


A solidão de estar contigo,
observando cada movimento seu,
cada olhar que cruza com o meu,
nesta luz de velas que a lua
insiste em nos banhar, deixo escapar
palavras não ditas, num diálogo
silencioso materializado pelas
vontades que esta minha pele
(e este meu coração)
desejam.
Navego à deriva dos seus olhares.
E neste mar de incertezas sou
poeta de uma única poesia clara...

Um menino, simplesmente,
que escreve à sua primeira
namorada.


(Dimitre Padilha)

segunda-feira, 7 de julho de 2014

Na medida dos seus olhos.


Se eu fosse te desenhar,
certamente começaria
por seus olhos...

Seus traços exalam
canções noturnas,
versos silenciosos,

cores de Frida Kahlo,
diálogos inauditos
sobre a ternura da madrugada.

Extravio-me de mim,
essa clara noite me resgata...



(Dimitre Padilha)

domingo, 6 de julho de 2014

Sem subterfúgios.


Li na bíblia que o amor é forte como a morte.
Como a morte ele dói pelo apego físico, depois sossega.

Mas não morre...

se transforma,
torna-se completo.

Renasce imensamente,
imensamente alto.


(Dimitre Padilha) 

segunda-feira, 16 de junho de 2014

Indizível.




Hoje, no exílio de um quarto,
quando o coração está mais frio
que o inverno que chega...

Vejo a sabedoria da natureza
pousada no canto da janela.

Afagando-me com olhos
familiares.  

(Dimitre Padilha)

quarta-feira, 11 de junho de 2014

Exílio.



Hoje, no exílio de minha casa,
vejo meu corpo aleijado
prostrado em cama alheia.

O que fizeste este humano coração
para ser cirurgicamente dissecado
pelas asas de um passarinho?

Este exílio que me habita
retirou dos pés descalços
o voo imensamente alto.

E neste ninho vazio
sou imensamente
triste.

Imensamente amputado.


(Dimitre Padilha) 

sábado, 24 de maio de 2014

Espuma clara.


E a espuma clara
lava minha alma
levando com as águas
minhas amarras
e tudo aquilo que me prende
ao fundo do casco deste navio,
naufrago que sou de mim...
                               

(Dimitre Padilha)

quarta-feira, 24 de julho de 2013

A triste partida.


À Jose Domingos de Morais.

Dominguinhos é água que cai no solo mais seco do Sertão
É lua que ilumina as estradas dos errantes em retirada
É mel que adoça a doçura das crianças
É sanfona gonzagueada.

Dominguinhos é a força que carrega a cultura nordestina
É harmonia improvisada, 120 baixos de maestria
É a resistência do vaqueiro na lida brava
É peregrino de todos nós.

Dominguinhos é a simplicidade da cachaça
É o aboio do vaqueiro tocando o gado
É conversa avarandada.

Dominguinhos é o aconchego do lar
É luar, sanfona, fogueira
É o Sertão.


(Dimitre Padilha – 23/08/2013)

terça-feira, 11 de junho de 2013

Tenho dito.


Talvez sim...

Quando o amor é uno
Quando o amor é tudo
Quando o amor é junto

É isto que completa
incessante...

(Dimitre Padilha)

sábado, 25 de maio de 2013

Feminismo.




Sendo a mulher derivada
da costela de Adão,
qual seria a força do
esqueleto deste cidadão?

Invertamos os polos
da Gênese, atribuindo
a Eva essa incrível
doação.

O ventre que lhe cabe
toda especiação.

Devoremos a árvore
da ciência.

Colocai-vos as uvas
na fermentação.

A mulher foi quem
gerou o tal de Adão.  

(Dimitre Padilha, poema para todas as mulheres).

quarta-feira, 22 de maio de 2013

Lua Clara.



Clara noite surge dos olhos
qual lua que exala cheiro morno
de alecrim em primavera anunciada.

Clara lua percorre a madrugada
das águas em ventos quentes
trazidos do norte.

A floresta é tua cama,
as cachoeiras, teus versos,
a essência da natureza
sua própria beleza.

(Dimitre Padilha)

terça-feira, 21 de maio de 2013

Solos e subsolos.





Poesia clara
manhã dos sóis,
girassóis, transcorrido vergel.
Enigmaticamente caminhar...

(Dimitre Padilha).

terça-feira, 7 de maio de 2013

Futuro do pretérito.



Vil e sujo vi-me em seus olhos
tão atentos quanto descuidados
de névoa e alumbramentos
pretéritos.

Incolor e sem cheiro avistei-me
em seu olhar retificador,
devastando-me de tudo
o quanto antecedia a mim.

Essa dor destitui o gozo
inaudito, interdito, despido
de sangue e pele flamejante.

São girassóis mumificados,
frutos impuros da lembrança
num jardim esquecido.

(Dimitre Padilha)

quarta-feira, 17 de abril de 2013

Donde brotam favelas.




Brotam espinhentas favelas
no meio do oco do Sertão,
impondo rudeza
ante a lei do cangaço,
foice, mula e gibão.

Sem medo o sertanejo
atravessa a morte,
garrada à mão sua prole,
escorrendo suor cru
por sob seu gibão.

Passos firmes
percorrem a sorte
de quem nasce
com o ferro do abate.

Planta sangue
no pó da Esperança.
Vento norte,
chuva forte.

Imbuzeiro, juazeiro,
aroeira, macambira,
catingueira, criação,
todos jazidos no chão.

Tanta gente retirada
para os lados do sudeste.
Passa tudo, menos a tristeza
e o sofrimento.

Fosse vivo Lampião,
Corisco, Candeeiro,
Labareda, Moita Braba,
Cabeleira, Azulão.

Invadiriam os poderes
do Estado, cortando língua,
furando olho, revirando vísceras,
bradando a vida do povo do Sertão.

(Dimitre Padilha).