sexta-feira, 18 de fevereiro de 2011

Intimamente.


Abismei-me em mim
quando do alto dos olhos,
saltei despido de paliativos
temores que indicam o fim.

Saltei, enfim.

Abeirado ao paredão de pedra,
com as unhas cavei crateras
adentrando um mar profundo
de onde descubro o cheiro do meu Eu
à hora do susto.

Encharquei-me de mim.

Absorto, pairado no mar,
reconheci buracos, estrume, lama,
raras bromélias, endêmicas orquídeas
e espinhos que agridem elas.

Meu Eu é o mar,
o mar dos antigos.

(Dimitre Padilha, em revoltadas ondas de verão)

quinta-feira, 17 de fevereiro de 2011

Pés descalços.

Pés descalços renegam a boca
À medida da rigidez da coluna.
Os vejo com os olhos da lembrança
Transportando-me à infância.

Cheiro de lavanda e alfazema,
Talco que liberta a pele
Da maciez aderente do tecido.
Aquecido, alimento-me de minha mãe.

Cheiro de lavanda inglesa
Dos pêlos do peito de meu pai
Cantarolando músicas autorais.
Sem etiquetas, arroto cheiro suave de vida.

No berço encontro meus pés,
Em especial o dedão, que de tão macio,
Afaga-me as gengivas e dentinhos.
Mordo até dormir.

Que saudade dos meus pés.

(Dimitre Padilha, com lágrimas de saudade)