Hoje duzentos anos pesam sobre mim,
Sinto os olhos cansados e o corpo pesado
Arrastando correntes sem dever pena.
Minha liberdade é cheia de algemas
Quebrando-me os pulsos, não mais os tenho.
Relógio sem tempo travando a traquéia, apertando, apertando,
Apertando, a cada minuto, menos um instante me resta.
Ah! Noites intermináveis, quem dera sentir a luz
Doer os olhos, o vento ressecar os lábios,
Uma música romper o permanente silêncio
Imposto por esse século,
Pelo transloucado darwinismo do capital.
Três milênios dobram minhas costas
Arrancam dentes, desfiam cabelos,
Apodrecem tecidos, torna lama células,
Investe contra o caráter (algumas vezes sem sucesso)
Arreda logo existência, não cansa.
Afasta de mim esse vinho inebriante, esse mentiroso (e diário) renascimento.
On voit le soleil.
(Dimitri Padilha)
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