sábado, 28 de março de 2009

Fonte da vida.


À Ubaldina Carvalho Cruz, minha avó querida.

Caminho perdido em floresta medieval,
Adentro, mais sinto os sons do início,
Vendo com olhos familiares, etérea miragem,

Este homem na linha do tempo, mimetizado
Entre folhas secas caídas em solo enriquecido
O sangue corre branco nos longos troncos,
Capilares copas enverdecidas de luz que resvala
Retornando ao globo ocular iludido pelo córtex.
São outonais visões de infância perdida entre galhos,
Genealogia de restos mortais transmutados em árvores.
Mais adentro, penetro em mim mesmo
Apresentada pelo espelho dos rios
Essa imagem irreconhecível do rosto que tenho
São pedaços falecidos de gente que ainda vive
Nos braços, pernas e tantos carbonos inalterados,
Decaindo a cada nascimento.
Rachados vasos nodosos de minha avó
Sangrando em Carvalho apodrecido
Mata fechada fechando ciclo
Vejo-me nos decompositores bichos
Sendo refeito a cada milênio
Numa mistura sem ritmo.

(Dimitri Padilha)

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