segunda-feira, 30 de março de 2009

Sem fisiologismo e com volúpia.


Uma gota de chuva toca-me a cabeça
Numa rua onde passa uma mulher.
Desce a testa alcançando o rosto
E ela anda inebriante em mim.
Cinza, o dia caminha colorido a sua volta,
Levando-me a pensar nele que faz poetas viverem.
Anda em câmera lenta deixando visível seu aroma
Em névoa que ressoa dos poros direto ao peito,
Doído do saudosismo de sua presença na rua,
Segundos de fuga do caos do mundo.
A gota passa do rosto ao pescoço evaporando-se
E logo outras chegam a ensopar os cabelos
Arrepiando, unidas ao vento, a pele,
Que deseja essa mulher na rua.
Notórios são seus finos pêlos nas pernas
Levantando-se ao menor sinal do frio
Escapando por entre rasgos propositais
Do jeans que cobre o resto, e chove,
Entorpecido, permito-me andar sem pressa,
Ao ritmo dos seus passos.
Nas mãos Baudelaire, talvez Balzac,
Realçando de cérebro seus lábios
E olhos semi-abertos pintados
Com sombras de desprezo.
De repente surge uma curva.
Ela, sem titubeio, abandona a rua,
Deixando como remédio
Um sorriso que devasta a mente
Num mantra inconsciente.
Eis que reaparece a vida dura.

(Dimitri Padilha)

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