quinta-feira, 23 de abril de 2009

Entre uma vida e outra.

Quando somos adolescentes acreditamos na existência do sempre, do imutável, da transparência, da realização dos sonhos, e, sobretudo, da verdade na amizade. Á medida que nos tornamos adultos, vamos descobrindo o lado obscuro das pessoas; suas fraquezas, recalques, medos, duvidas, desvios de caráter e tudo mais que, durante a miopia da imaturidade, não pudemos enxergar. Nosso ego é enorme, talvez inflado por nossos pais, por filmes e livros. Mas não somos Napoleão ou Buda. Não escrevemos como Ernest Hemingway. Não temos a força de Leônidas, nem mesmo somos espartanos; e ficamos revoltados com isso. Mas somos impotentes ante tal descoberta. Com o tempo descobrimos outros caminhos e desejos, procurando enxergar o lado simples e objetivo da vida. Aprendemos que os defeitos nos tornam mais humanos e que com eles crescemos. Então passamos a experimentar sensações, gostos doces e amargos, amores canalhas e reais, pessoas que nos completam ou destroem e mesmo assim pomos os dedos na chapa em brasa para sentir que estamos vivos. Assim seguimos este eterno curso de erros.
Pessoas passam por nossas vidas; em determinado momento foram indispensáveis, como aquele amor imensurável que hoje é um quadro de Monet, expressando o mais puro e inocente que existia dentro de nós, porém sem realismo algum, mas somos reais.
Pensávamos ser impossível existir sem determinados amigos, e continuamos vivos, mesmo estando mortos dentro de nós. Outros, ou, talvez, somente um, continuou existindo (era bom saber disso). Mas nossas vidas, entre idas e vindas, foram tomando cursos diferentes, outros são os nossos oceanos, outros são nossos sóis. Éramos amigos e pouco a pouco nos tornamos desconhecidos um ao outro, num processo de especiação já declarado por Darwin, que começa num isolamento de idéias e princípios, depois num geográfico. Mas não importa que assim o seja, não vamos procurar esconder ou calar, como se isso fosse motivo para nos envergonharmos. Assim é a vida.
Podemos nos cruzar, talvez, e celebraremos uma festa como tantas outras o fizemos, não como antes, não como os mesmos, pois a amizade ficou aprisionada no passado, numa foto de diário. Mas foi preciso nos tornar estranhos, porque era essa, talvez, nossa lei, e é por isso que nos devemos mais respeito e consideração, para que a idéia de nossa antiga amizade não se torne uma farsa, anulando alguns anos de nossas vidas ou fazendo com que sejamos cegos, surdos e mudos. Então acreditemos em nossa antiga amizade como algo á parte do que aprendemos com os tropeços e tapas na cara, fora dos conceitos deste mundo louco. Mesmo se tivermos de ser inimigos aqui na terra. Porque a vida é tão frágil e passageira, que não nos cabe o prazer da irracionalidade.

(Dimitri Padilha)

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