quarta-feira, 17 de abril de 2013

Donde brotam favelas.




Brotam espinhentas favelas
no meio do oco do Sertão,
impondo rudeza
ante a lei do cangaço,
foice, mula e gibão.

Sem medo o sertanejo
atravessa a morte,
garrada à mão sua prole,
escorrendo suor cru
por sob seu gibão.

Passos firmes
percorrem a sorte
de quem nasce
com o ferro do abate.

Planta sangue
no pó da Esperança.
Vento norte,
chuva forte.

Imbuzeiro, juazeiro,
aroeira, macambira,
catingueira, criação,
todos jazidos no chão.

Tanta gente retirada
para os lados do sudeste.
Passa tudo, menos a tristeza
e o sofrimento.

Fosse vivo Lampião,
Corisco, Candeeiro,
Labareda, Moita Braba,
Cabeleira, Azulão.

Invadiriam os poderes
do Estado, cortando língua,
furando olho, revirando vísceras,
bradando a vida do povo do Sertão.

(Dimitre Padilha).

quinta-feira, 25 de outubro de 2012

Dos caminhos imaginados que nunca podem saltar.


                                
                                                      À Vanessa Lima Lins e Raphael Patury Lins



Caminham pelas ruas os pés
que às pernas dominam
e a mim desconfortam
o caminho que os levam.
Este caminhar leva sempre até nós.

Caminham anestesiados os pés
sob o caminho imaginário
arrastando sempre aquelas pernas
donde brota todo ser
o ser que é sempre todos nós.

Caminham para o salto os pés
cooptados pelo caminho deixado,
levando consigo adiante o ser
do nada, inexistente de folego e grito.

Caminham sorrateiros
conosco, dentro de nós,
diversos de impossibilidades.

Possibilitemo-nos.

(Dimitre Padilha – arbitrariamente divagando a três).

terça-feira, 29 de maio de 2012

Escrito.



Sim,

escrever

dói,

e

dói

nas

V Í S C E R A S...

(Dimitre Padilha)

Poema newtoniano.



A massa multiplicada

pela GRAVIDADE

não dá o PESO de uma

P A L A V R A...

(Dimitre Padilha)













terça-feira, 8 de maio de 2012

A Lua e Eu.




Certa vez a lua perguntou-me:
- por que me achas tão bela?
E eu, ao mirar seus olhos de ressaca, disse-lhe:
-Porque poesia, lua, a gente escreve com as vontades do coração.

(Dimitre Padilha, às 3 da madrugada, conversando com a Lua)

segunda-feira, 7 de maio de 2012

Essa lua.


                                                                         Foto by: Chico Passos

Quando olho-te assim nua e branca,
sem pudor, exposta publicamente aos ventos
das noites quentes do norte...
essa canção, esse vinho, esse cheiro de mar,
me tens enternecido como o diabo.

(Dimitre Padilha – aos 05/05/2012, sábado e primeiro dia de lua cheia).

Quimicamente.




A paixão nada mais é do que um dedo na ferida
acompanhado de doses regulares de morfina,
anfetamina, serotonina e anti-inflamatórios.
E nessa diária paradoxal química, um simples
olhar de ressaca pintado com sombras e
sorrisos oculares, ensejam poemas homéricos.

(Dimitre Padilha – aos 05/05/2012)

sábado, 21 de abril de 2012

Amor-Paixão.



Amor é música clássica,
paixão é jazz, tango.

Assim, amo quando a brisa
em clara noite perfumada
abranda o mar, e os corpos
mornamente entrelaçados
adormecem vigiados pela lua.

Quando paixão, os ventos mudam,
entra a viração, o leste devastador.
O mar apesar de azul é revolto,
lua cheia, tempestades solares,
e os corpos não se entrelaçam, fundem-se
um ao outro, numa ânsia de sede incurável.

O amor é outonal, é um sereno
caminhar por sobre folhas secas,
é entardecer-se.

Paixão é criação volátil, é um matar-se
dentro de si a cada instante, em revoltadas
ondas primaveris.

A paixão é o amor criança.


(Dimitre Padilha – aos 18 dias de Abril)

sexta-feira, 20 de abril de 2012

A Poesia.




Era bom saber dos olhos,
da música, dos suspiros,
do vinho derramado
sobre seus panos...
a pele, a língua, o hálito morno
escapado por entre seus dentes,
possuindo toda minha insônia.

Hoje sua ausência me
faz mais presente de mim
e distante do ludismo da noite,
lua, música e nostalgia...
dos inebriantes desejos do eu e você,
simplesmente.

O dia me tens cansado,
grudado aos livros,
dedicado aos dessabores
fáticos do mundo,
à maestria imposta aos juristas,
trancafiados e mortos a cada dia...
renascidos a outros.

Agora, à noite, em Pasárgada,
o cigarro não me deixa,
o malte, a cerveja, inspiram-me
dedilhar palavras soltas ao violão
enquanto mulheres de olhos aliciadores
exalam perfumes misturados.
Onde ainda sou poeta.

Amanhã não me terás profano,
ausente  ou amputado de mim,
já não habito a caverna de Platão,
e há muito são outras as minhas paixões,
são outros os desejos que ensejam
lágrimas ou despertam cólera espartana.

Os olhos pueris 
a que me viram os teus,
sempre hão de enxergar
a imensidão do meu ser
entre espelhos paralelos,
e dentre tantos aqueles que sou,
sempre haverá um seu.

(Dimitre Padilha – aos 10 dias de Abril de 2012)

sexta-feira, 29 de abril de 2011

Produtor de Miragens.


O poeta é acima de tudo um profeta beduíno
que avista entre os grãos suspensos
em redemoinho de areia, imagens produzidas
pelos manifestos desejos do Eu.

(Dimitre Padilha)

sexta-feira, 18 de fevereiro de 2011

Intimamente.


Abismei-me em mim
quando do alto dos olhos,
saltei despido de paliativos
temores que indicam o fim.

Saltei, enfim.

Abeirado ao paredão de pedra,
com as unhas cavei crateras
adentrando um mar profundo
de onde descubro o cheiro do meu Eu
à hora do susto.

Encharquei-me de mim.

Absorto, pairado no mar,
reconheci buracos, estrume, lama,
raras bromélias, endêmicas orquídeas
e espinhos que agridem elas.

Meu Eu é o mar,
o mar dos antigos.

(Dimitre Padilha, em revoltadas ondas de verão)

quinta-feira, 17 de fevereiro de 2011

Pés descalços.

Pés descalços renegam a boca
À medida da rigidez da coluna.
Os vejo com os olhos da lembrança
Transportando-me à infância.

Cheiro de lavanda e alfazema,
Talco que liberta a pele
Da maciez aderente do tecido.
Aquecido, alimento-me de minha mãe.

Cheiro de lavanda inglesa
Dos pêlos do peito de meu pai
Cantarolando músicas autorais.
Sem etiquetas, arroto cheiro suave de vida.

No berço encontro meus pés,
Em especial o dedão, que de tão macio,
Afaga-me as gengivas e dentinhos.
Mordo até dormir.

Que saudade dos meus pés.

(Dimitre Padilha, com lágrimas de saudade)