segunda-feira, 2 de março de 2009

Poema de páscoa.

Ao amigo Dorival Filho.
Pousas em meu rosto uma mosca.
Faminta, lambes meu sangue
Sedenta, matas meu suor.
Es minha existência precipitada a pó.
Bactéria pré-natal
Incubada na fecundação
Esse câncer que desperta prematuro
Anunciador do futuro.
Hoje sou voz e pensamento
Contato e redenção.
Amanhã serei lama, vento,
Um cipreste crescendo
Nesse Eterno Retorno do carbono
Quem sou não sei mais.
Serei essa voz diária desde que me conheci
Que fala sem som?
Quando ela cala ficamos mudos de existência?
Para onde vai a consciência na ausência das sinapses,
Senão para o chão, completando o ciclo da matéria?

(Dimitri Padilha).

Um comentário:

  1. Muito bom, velho! Gostei muito dessa... seus textos têm revelado uma linha existencialista ácida, rude. E esse texto traz esse aspecto abordando de forma sutil o ciclo infindo da existência... a voz e pensamento se desprendendo do corpo (mas não inexistindo)... e o corpo então continuando a sua existência...nas células transmutando no cipreste que cresce.
    Tenho gostado de conhecer esse outro lado do Dimitri Padilha! Parabéns, velho!

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